The New York Times entrevista arquitetos da CASACOR
Stephanie Ribeiro e Wesley Lemos falaram ao jornal nova-iorquino sobre heranças coloniais e vestígios da escravidão presentes na arquitetura brasileira
Por meio das mostras de CASACOR ao redor da América Latina, o público tem acesso ao melhor do que é feito em arquitetura hoje. E por mais valiosos que sejam os momentos contemplando os ambientes criados pelos maiores nomes do design de interiores do continente, Stephanie Ribeiro e Wesley Lemos, arquitetos do elenco de CASACOR, lembram que os projetos arquitetônicos Brasil afora vêm em numerosas formas – e tamanhos.
Stephanie e Wesley foram os especialistas convidados pelo The New York Times para discutir as heranças coloniais e os vestígios da escravidão que persistem na arquitetura de moradias brasileiras. Para a matéria “37 pés quadrados que revelam o passado racista do Brasil”, os profissionais analisaram as pequenas áreas em residências que historicamente foram destinadas aos trabalhadores domésticos — coloquialmente chamados de “quartinho de empregada”, especifica Stephanie.
“Esse debate é super importante e eu fiquei muito feliz que o The New York Times apontou isso. A arquitetura tem o poder de materializar a realidade e as desigualdades da sociedade; temos que ter esse senso crítico”, afirma a arquiteta. Como ela explica em entrevista ao jornal nova-iorquino, o quarto de estrutura precária e poucos metros quadrados reforça a ideia exploratória de que funcionários domésticos devem estar a todo momento a serviço dos patrões, dormir no trabalho e abrir mão das próprias vidas pessoais. “Isso se origina das dinâmicas escravocratas”, diz.
Os dois arquitetos apontam que, cada vez mais, os ditos “quartinhos de empregada” perdem o sentido. Wesley enxerga esse processo como uma ressignificação dos espaços e desconstrução dos sinais persistentes de colonialidade.
Nas novas edificações, tais áreas anteriormente destinadas ao serviço estão sendo excluídas e, em prédios antigos, vêm sendo transformadas em depósitos, closets ou home offices.“Mas é crucial lembrar que as relações entre patrões e empregados, como diaristas, ainda carregam vestígios do passado colonial. Isso não é apenas um reflexo na arquitetura, mas permeia diversas esferas sociais”, salienta Wesley.
O arquiteto salienta a importância de utilizar a arquitetura a favor da sociedade, rompendo com as heranças coloniais amarradas à sociedade. “Em meus projetos, meu objetivo é mostrar que é possível desenvolver relações saudáveis dentro de um lar, evitando qualquer vestígio de dependência servil”, afirma.
Um exemplo visível na CASACOR, segundo Wesley, é o uso da tecnologia: “Reduz o tempo gasto com tarefas domésticas e permite uma rotina menos dura tanto para os profissionais responsáveis pelos cuidados do lar quanto para os moradores”.
Leia aqui a reportagem completa do New York Times.