Casa multiespécie: vivendo na (boa) companhia das plantas e pets
Apontado como tendência, esse novo formato de família deve influenciar os projetos residenciais e o mercado de decoração e interiores
Não é novidade que ter um animal de estimação em casa pode deixar o dia a dia mais divertido e amoroso e, para muitas pessoas, ajuda também no tratamento de doenças como depressão e ansiedade. Mas, de alguns anos para cá, o número de casas e apartamentos com cães e gatos aumentou consideravelmente e o mercado de produtos para pets também cresceu. De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Pet Brasil junto ao IBGE, chamado Censo Pet, o Brasil tem mais de 139 milhões de animais de estimação, sendo 54 milhões de cães, 39,8 milhões de aves, 23,9 milhões de gatos, 19,1 milhões de peixes e 2,3 milhões de répteis e pequenos mamíferos. Outro dado interessante da pesquisa é que mais de 47% dos pets habitam a região sudeste do país.
Além dos pets, as plantas também figuram como companheiras de muitos moradores. A onda da urban jungle veio com tudo e, com ela, surgiram as mães e os pais de planta. Imagens e conteúdos voltados para esse universo explodiram nas redes sociais, principalmente durante a pandemia, e aqueceu o mercado de jardinagem e paisagismo.
Paralelamente a esses crescimentos, um estudo da WGSN, empresa especializada em pesquisa de tendências, apontou em 2024 a casa multiespécie como um dos insights que se destacam em seu relatório anual. De acordo com o estudo, a previsão é que os espaços onde moramos vão se adaptar cada vez mais às necessidades de nossos companheiros peludos ou verdes. As casas que agora abrigam diversas espécies de seres vivos anunciam o surgimento de famílias não tradicionais, com plantas habitando salas de estar e pets dormindo em nossas camas.
Com isso, muitas novidades alinhadas a essa tendência devem surgir nos mercados de tecnologia e design de interiores. No começo do ano, a Samsung, por exemplo, lançou uma nova versão do Ballie, seu robô doméstico com IA, que desempenha o papel de assistente pessoal, movendo-se de forma autônoma pela casa para executar diversas tarefas. Uma delas é proporcionar tranquilidade ao enviar atualizações em vídeo dos pets para os dispositivos dos moradores quando estão fora de casa.
Ainda segundo a pesquisa da WGSN, a casa multiespécie está ligada a diversas gerações — de baby boomers e pessoas da geração X, que adotam aves, cães e gatos depois que os filhos se mudam de casa, aos millennials e à geração Z, que tratam os pets como filhos de quatro patas e plantas como companheiras.
Nos projetos de interiores, a previsão é que veremos muitas demandas novas, a exemplo de pátios para cães e gatos, quartos para cachorros e chuveiros para pets com grande apelo estético. Além disso, esses novos ambientes também devem ser preparados para receber uma limpeza mais pesada quando necessário.
As plantas também devem ter mais presença nas casas e apartamentos e serem expostas com arranjos inovadores, como hidropônicos, vasos criativos, terrários e designs com suportes montados direto nas paredes.
Veja abaixo ideias de ambientes multiespécie
Assinado pelo escritório MATÚ Arquitetura, das arquitetas Gabrieli Azevedo, Fernanda Lins, Ana Pernambuco e Bruna Marchiori, o apartamento localizado na Zona Oeste de São Paulo é a moradia de uma família multiespécie: um casal, três gatos e dois cachorros, sendo um deles deficiente visual. Uma área social foi criada com a proposta de atender às demandas de cada um: uma estante-playground para os gatos, um sofá baixo e modular para ajudar na acessibilidade dos cachorros, um escritório para o morador trabalhar e tocar guitarra, e um grande banco abaixo da janela para a moradora ter seus momentos de leitura e expor algumas peças de arte com valor afetivo.
Projetada pelo escritório australiano Wowowa, esta é a casa de um casal apaixonado por viagens com quatro bebês peludos: dois cachorros e dois gatos. O projeto reformou uma construção dos anos 1970 e criou uma ambientação contemporânea e confortável para todos os membros da família. Toques de laranja na cozinha e outros tons quentes espalhados pelo décor reforçam o clima aconchegante do espaço.
Localizado em Ipanema, Rio de Janeiro, o primeiro apartamento da arquiteta Luiza Mesquita, sócia da arquiteta Luana Bergamo no escritório Sketchlab Arquitetura, tem 60 m² e foi totalmente reformado para receber a profissional e seu filho de quatro patas, o pitbull Koda. Segundo ela, o projeto incorpora seus gostos e lembranças. “Posso dizer que é 50% careta e 50% jovem, pois, ao mesmo tempo em que eu quis trazer uma atmosfera contemporânea, pensei em como nós, arquitetos, estamos sempre em transição e queremos experimentar novas tendências”, explica. A preocupação com a praticidade também foi primordial, pois a moradora queria materiais e acabamentos que facilitassem o dia-a-dia, com manutenção rápida e descomplicada. Um bom exemplo foi a opção dela pelo piso de porcelanato amadeirado no padrão carvalho, no lugar da madeira propriamente dita.
Um dos principais pedidos da moradora deste apartamento de 84 m², no Leblon, Rio de Janeiro, era que os ambientes fossem confortáveis e práticos para receber seus cinco gatos. O projeto foi elaborado pelo arquiteto Nilton Montarroyos e incluiu a troca de toda a infraestrutura elétrica e hidráulica. “Ela pediu uma cozinha integrada à sala, um closet com muitos armários, um quarto de hóspedes confortável e que a casa fosse adaptada para seus pets”, conta o profissional.
Uma longa floreira suspensa atravessa todos ambientes integrados e desenha, junto com os vasos de chão e pendentes, um bioma particular neste apartamento projetado pelo Estúdio Guto Requena. A presença de vegetação em escala nos ambientes é capaz de criar um microclima específico, diminuindo as altas temperaturas e melhorando a qualidade do ar, premissas importantes em uma cidade como São Paulo.
O destaque deste apartamento, localizado em plena Avenida Paulista, está na inserção das mais de 50 plantas de diversas origens, com espécies variadas de samambaias, filodendros, ficus e suculentas. A cor verde predominante recobre também as paredes, os tecidos, as persianas e o mobiliário. Projeto do arquiteto Ricardo Abreu.